Fisioterapia na Artrite Reumatóide Juvenil




A artrite idiopática juvenil (AIJ) é uma doença de etiologia desconhecida que se caracteriza pela presença de artrite crônica e manifestações gerais e viscerais. Muitos pacientes podem apresentar incapacidade física permanente.

O tratamento deve ser contínuo e seus principais objetivos centram-se em controle da inflamação, diminuição da dor, prevenção de dano irreversível nas articulações, melhora da função articular, prevenção de lesões articulares, controle da atividade e busca pela regressão da doença, prevenindo uma série de sucessivas outras doenças, tais como distúrbios de crescimento, lesões articulares e limitações funcionais, buscando subsidiar uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento dentro dos padrões da normalidade.

Articulações atingidas

A doença articular típica consiste em uma poliartrite de padrão simétrico e aditivo. Caracterizado por freqüentes exarcebações e remissões, podendo se tornar crônico e destrutivo.

As articulações estão envolvidas bilateralmente, iniciando-se por articulações pequenas.

As articulações mais envolvidas no início são:

  • Punho e mão: metacarpofalangeanas (MCFs), interfalangeanas proximais das mãos (IFPs),dando aspecto de dedo em fuso, metatarsofalangeanas (MTFs); interfalangeanas distais das mãos (IFDs); dedo em colo de cisne, conforme figura 2; articulações MCFs tendem a ficar luxadas e se desviarem em sentido ulnar, como mostrado na figura abaixo (Figura 2); edema dorsal dos punhos é comum e a proliferação local da sinóvia pode ocasionar ruptura do 5º. e 6º  tendões extensores dos dedos, os quais ficam caídos, é a síndrome da cabeça da ulna ou caput ulnae; síndrome do túnel do carpo, pela compressão do nervo mediano pelo edema e proliferação da sinóvia da articulação do punho; tenossinovite de tendões flexores dos dedos, podendo aparecer, também, a síndrome de De Quervain (tenossinovite do abdutor longo e extensor curto do polegar); nódulos reumatóides se localizam sobre os tendões, travando os dedos em flexão, com dor (em gatilho);
  • Ombros: com bursas e tendões, levando a bursites, tendinites e até ruptura do manguito rotador;
  • Joelhos: coleção líquida no espaço articular, fazendo protrusão na porção posterior = cisto de Baker à "hérnia" da sinovial, onde líquido sinovial entra, mas não pode sair, conforme mostra figura 3.

Com a evolução da doença, outras articulações costumam ser atingidas e outras deformidades vão aparecendo:

  • Tornozelos: onde o envolvimento é mais raro, aparece na formas mais severas; pode ocorrer erosões ligamentares, levando a incongruência articular, ocasionando deformidades em pronação ou eversão do pé; articulações metatarsofalangeanas e as do tarso e IFDs e IFPs;
  • Pés: há um afundamento do arco anterior, cria um pé plano anterior; pode acontecer hallux valgus e calos sobre as articulações IFPs; o tendão de aquiles é local para assentamento de inflamações e nódulos reumatóides  tais alterações podem levar à claudicação na marcha;
  • Coxofemorais: mais em crianças – AR juvenil;
  • Cotovelos: epicondilite ou artrite, onde o paciente perde a extensão total da articulação, apresentando rigidez viciosa: semiflexão com semipronação dos antebraços;
  • Coluna cervical: destruição do ligamento transverso do atlas e do ligamento atlanto-axial anterior, permite que o dente do áxis deslize para dentro do canal espinhal, comprimindo a medula; pode haver subluxação atlanto-axial; queixas mais comuns: cefaléia em região occipital, disfunção esfincteriana de bexiga e intestinos;
  • Esternoclaviculares;
  • Temporomandibulares: anquilose ou reabsorção dos côndilos mandibulares;
  • Cricoaritenóideas: causam rouquidão, sensação de tensão na garganta que aumenta ao tossir e ao deglutir; podem se imobilizar em adução causando dificuldade respiratória, o que se configura em situação de emergência;
  • Sinoviais entre os ossículos dos ouvidos.

Em geral, a dor é moderada e permite ao paciente realizar pelo menos suas atividades de vida diária.


Atuação da Fisioterapia

O principal objetivo da fisioterapia é melhorar a dor e o quadro inflamatório, aumentando a força muscular, a flexibilidade, a amplitude de movimento e a capacidade respiratória, possibilitando que a criança execute suas atividades funcionais diárias sem restrições.

Antes do tratamento, é necessária a realização da avaliação fisioterapêutica, para identificar as queixas e as limitações principais do paciente. Na anamnese, uma conversa com a criança e com os pais é necessária para colher informações sobre a rotina da família bem como seus incômodos e frustrações. A avaliação física é necessária para identificar as articulações afetadas pela patologia e o grau de acometimento.

Na inspeção se deve observar a presença de edemas, vermelhidões, deformidades e desalinhamentos. Na palpação, o fisioterapeuta observará alterações de temperatura, nódulos reumatoides, rigidez articular e presença de dor a palpação.

A avaliação da amplitude de movimento realizada por meio da goniometria é necessária, tanto de forma passiva quanto ativa, a fim de verificar o quanto de movimento o paciente consegue realizar na ausência de dor e a influência na rigidez na mobilidade articular.

Para o teste de força muscular é necessário cuidado e atenção, sempre respeitando os limites do paciente e sua dor. Por isso o teste de amplitude de movimento é realizado primeiro e de acordo com o seu resultado se sabe como prosseguir no teste de força muscular.

Avaliações funcionais são essenciais para esses pacientes. É necessário verificar o quanto a dor e a limitação de movimento influenciam na marcha, na postura estática e dinâmica, no equilíbrio e na funcionalidade geral da criança. Em função da doença também afetar o sistema respiratório este também deve ser avaliado, observando o padrão e a capacidade respiratória do indivíduo.

Eletroterapia

A eletroterapia consiste na utilização de correntes elétricas para fins terapêuticos. Ela é utilizada para tratar condições neuromusculares, incrementar a circulação local, diminuir a dor e aumentar a amplitude de movimento.

Em pacientes com artrite reumatoide juvenil, pode ser utilizada durantes as crises, em que o quadro álgico atinge níveis elevados, e nas fases iniciais do tratamento. O ultrassom e o laser terapêuticos são indicados para esses pacientes, uma vez que o ultrassom é efetivo na diminuição de dores de articulações e tecidos musculares profundos e o laser possui efeitos vasodilatador e anti-inflamatório, o que resulta em seu efeito terapêutico analgésico e anti-inflamatório.

Hidrocinesioterapia

A hidrocinesioterapia é muito utilizada para o tratamento de artrite reumatóide tanto em adultos quanto em crianças, devido a suas propriedades físicas e efeitos fisiológicos. Para o público jovem esta pode ser uma boa estratégia, por permitir atividades lúdicas, de recreação e contato com outros pacientes.

A água aquecida proporciona o relaxamento muscular, o aumento do fluxo sanguíneo e da flexibilidade, o fortalecimento muscular, a reeducação da marcha e a melhora do equilíbrio e da coordenação. O aumento da temperatura tem efeito sobre os impulsos dolorosos, inibindo-os, o que causa analgesia.

Devido à força de flutuação da água, ocorre um alívio do estresse e da sobrecarga nas articulações, o que permite maior amplitude de movimento. Além disso, a pressão hidrostática auxilia na resolução do edema, por meio da compressão dos tecidos moles imersos, aumentando o retorno linfático e venoso.

Utilizando-se a resistência da água é possível a realização de movimentos ativos e passivos. Usa-se as caneleiras e a resistência manual pela própria resistência do meio aquático, além de também ser utilizado materiais que criem maior resistência neste meio.

A hidrocinesioterapia é uma alternativa segura para a realização dos exercícios aeróbios, que são necessários a esses pacientes, porém requerem cuidados na prescrição.

Fortalecimento Muscular

A força muscular apresenta correlação com a capacidade de realizar as AVDs. Muitos pacientes com AIJ apresentam redução da força quando comparada à de indivíduos saudáveis.

O exercício resistido tem se mostrado um eficiente recurso no processo de reabilitação das disfunções musculares, como perda da força. Um estudo realizado em pacientes com AR submetidos a um treinamento resistido com baixa carga e alta repetição mostrou redução na intensidade da dor nas articulações, melhora da força, da funcionalidade e do tempo total de permanência no teste ergométrico, além de significativa melhora na força, funcionalidade e na qualidade de vida. O ACR indica exercícios resistidos para pacientes com AR de duas a três vezes na semana com 50% a 80% do teste de "1 Repetição Máxima" (1RM), com uma ou duas séries de oito a 12 repetições. Crianças com AIJ devem fazer exercícios resistidos três vezes por semana para melhora da força e da resistência muscular. Entretanto, essa recomendação se mostra superficial diante das particularidades do organismo da criança e do adolescente.

A redução da força muscular, a instabilidade articular e a redução da densidade óssea observadas na criança com AIJ justificam a utilização dos exercícios resistidos. Todavia, a escassez de estudos dificulta a prescrição detalhada de cargas, número de séries e repetições.

A artrite reumatoide é uma doença comum e o fisioterapeuta tem papel essencial no tratamento não farmacológico do paciente. Por meio de exercícios ativos e passivos, alongamentos, eletroterapia e orientações gerais o profissional pode promover a melhora da qualidade de vida da criança e proporcionar uma rotina mais alegre e livre de dores, inserindo o indivíduo na sociedade.


Temos materiais direcionados para estudantes e profissionais de Fisioterapia. Para mais informações, entre em contato conosco! Clique aqui para enviar uma mensagem no WhatsApp!
Fisioterapia na Artrite Reumatóide Juvenil Fisioterapia na Artrite Reumatóide Juvenil Revisado por Editoria on agosto 10, 2022 Rating: 5

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.